Desde que comecei a ler sobre construtivismo, sobretudo as vertentes sociológicas e cognitivas, o conceito de objetividade se tornou mais fluido, mais fugidio, quase uma quimera. A bem da verdade, eu já havia me deparado com a evidência dessa “realidade construída” bem antes, quando minha paixão maior ainda era a lingüística: meus mestres Jakobson, Hjelmslev, Saussurre e Peirce – sobretudo o primeiro – já me haviam chamado a atenção para a artificialidade do mundo criado pela linguagem, para o descompasso, o vazio entre o significante e o significado. “O mundo é tudo o que é o caso”, dizia Wittgenstein, e o caso, a cada vez, é um encadeamento mais ou menos estável, mais ou menos impalpável, mais ou menos extensível, de “recortes” do real, de “traços distintivos” contingentes, que se fixam pela redundância.
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Mas não me interessa tanto esse papo cabeça – já acrescentando que, nos últimos anos, vinha dedicando minha atenção quase que exclusivamente aos aspectos teóricos da comunicação, fenômeno bem diverso da linguagem. O que me interessa mesmo é que, nessa vertigem da dissolução do “mundo objetivo”, entre o cristal e a fumaça (Henri Atlan dixit), a única opção viável, do ponto de vista existencial, é render-se à lógica paradoxal do simbólico – como já disse, entre outras coisas, na postagem anterior. E o paradoxo é: o “real” só é acessível pela ilusão do simbólico; a certeza, ainda que provisória, do mundo objetivo, só se revela na construção ficcional de significantes essencialmente vazios.
Nada disso é muito “objetivo”, como vocês podem perceber, quer dizer, não tem um “propósito” específico – no que denuncio meu punctum dolens, meu hematoma, minha ferida: a dificuldade em ser “objetivo”. Chegado aqui, obviamente, recuso-me a fazer uma petição de princípio, a reconduzir minhas conclusões aos meus questionamentos – de que me adiantaria perguntar novamente “mas o que é ser objetivo, se a própria objetividade não tem um conteúdo invariável?”? Daí que só a violência/autoridade de um corte – uma decisão que não vacila – é capaz de nos recolocar, precariamente que seja, no domínio instantâneo do real, da literalidade, do aparente do aparente. Acho que é por isso que um velho ditado ídiche diz: “É melhor um tolo completo do que um meio-sábio.”
Infelizmente, isso não elide o fato de que a certeza é apenas um furo na tessitura das incertezas, sob o perene risco de fechar-se tão logo se abra – assim como o desejo é só o índice de uma falta que nunca se preenche, de um vir-a-ser que nunca é.
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