sábado, 3 de maio de 2008

Libertas quae sera tamen

Como o demais de tudo da vida, a liberdade não é a mesma pela estrada afora. Para mim também houve quando ela parecesse a mera ausência de dominação, a explosão a esmo, a inconsciência espasmódica da embriaguez, a debaucherie petulante, a vagabundagem cotidiana e sua lassidão consentida, bocejante e sem remorso. Houve igualmente quando o meu ser livre era a ostentação desavergonhada do que a mim se me acrescia - a opulência do corpo, a virilidade rubra da carne, a sonância da voz, a agudeza da mente e a habilidade dos dedos. E houve, por certo, quando esta liberdade avessa a si se impunha pelo açoite, liberdade de se constringir: andar calçado e vestido, atender à higiene, observar a um silêncio obsequioso sobre todo clamor, e, sobretudo, impor a si um brando regime musical.
Agora, entretido em reminiscências, o olhar fino e meio pachorrento estendido sobre as distâncias dos meus horizontes, sinto-me mais uma vez premido por esta condição fugidia sobre a qual tenho equilibrado a minha travessia. E me apraz estar assim - ancho, dilatado, remansoso como nunca, aplicado em minha arte silenciosa, engendrando no escuro do peito uma palavra que fale por si mesma e me redima, uma palavra nunca dita e que jamais se dirá, mas viva, na intenção e no gesto que são um só, de um só coração, uma só alma, um só desejo.

3 comentários:

Deborah Leão disse...

O que é a liberdade, senão o respeito ao próprio desejo? Veja bem: respeito, não submissão.

Talvez por isso o adolescente confunda liberdade e descontrole, porque ele se rende ao desejo, sem questionar.

Encontrar o desejo, conhecê-lo, e dele se assenhorear. E tomar um bom vinho, escutar o corpo, perder a alma.

CAO CABELECILE disse...

HOLA SOY PAULA DE XANGO ESTOY ACA PARA INVITARTE A MI ESPACIO Y ASI CONOCER GENTE CON IGUALES IDEAS A LAS MIAS .

GRACIAS POR EL ESPACIO

PASATE SERAS BIENVENIDO/A

Junkie Careta disse...

"Quod me nutrit me destruit"