sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Les non-dupes errent

“The blood-dimmed tide is loosed, and everywhere / the ceremony of innocence is drowned; / the best lack all conviction, while the worst / are full of passionate intensity.” (W.B. Yeats, The Second Coming).

“Those who do not let themselves be caught in the symbolic deception/fiction and continue to believe their eyes are the ones who err most.” (S. Zizek, What’s Wrong with Fundamentalism?)



O pato atrás da lente. O pato atrás da tela. O pato atrás da porta, atrás dos óculos, atrás do telefone. O pato atrás da barba. O pato atrás das promessas descumpridas, atrás das contas não pagas. O pato atrás do outro pato, atrás dos arbustos floridos, atrás das bancas de jornal, atrás da fumaça dos cigarros, das cascas das cigarras. O pato atrás dos compromissos, do encontro sempre adiado, da partida sempre adiada. O pato atrás do vidro escuro do carro, atrás do volante, preciso e frio como um laser de gelo. O pato atrás das vitrines dos shopping centers, de olhos vidrados no nada. O pato atrás da sombra que desliza sobre o corpo sonolento, crispado de terror e fascínio. O pato atrás das cortinas, num dia de sol, longe da areia e do tumulto. O pato atrás de seja lá quem for, cheio de amabilidades e sorrisos. O pato atrás da cama, erguendo o chicote. O pato atrás da palavra dura, da notícia dura, no último minuto. O pato atrás do furo do furo do furo, no fundo, segurando seu nome dentro da boca que se abre, muda. O pato correndo, atrás da hora que se esvai.


Quem paga o pato também apaga o pathos?

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